De Paulo Celso Pereira e Ligia Adriana Rodrigues (Curso de Psicologia)
Catanduva-SP, 20 de março de 2009 – Pedofilia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um desvio sexual que se caracteriza, usando de uma definição bem ampla, como a atração sexual de um adulto ou adolescente por crianças. Qualquer ato ou jogo libidinoso praticado por um adulto contra uma criança caracteriza abuso sexual.
O abuso sexual contra crianças ou adolescentes é uma manifestação que pode ocorrer em qualquer classe social e etnia. Ainda pode ocorrer dentro ou fora do lar. Os crimes mais comuns praticados por pedófilos, ou seja, por adultos que abusam de crianças, são: atentado violento ao pudor, estupro e pornografia infantil.
Pois bem, os moradores dos bairros da periferia de Catanduva têm baixa qualidade de vida, pela falta de urbanização, incipiente infra-estrutura, descaso etc. Em dois ou três bairros de nossa periferia eclodiu um caso de pedofilia que chamou e chama a atenção da mídia e da população de um modo geral, dentre outros fatores pelo grande número de crianças abusadas, fazendo da dor destas e de suas famílias a oportunidade, para alguns, de promoção, pessoal ou profissional.
Em um momento fundamental de privacidade para essas famílias – para juntar “os cacos do que sobrou” - uma exposição exagerada e “todos querendo ajudar”, “todos levantando a bandeira contra a pedofilia”. Mas: só agora, depois que a imolação dessas crianças se tornou manchete nacional?
Para as crianças, “do Jardim Alpino”, faz-se necessário, no que couber, a intervenção das políticas públicas de atendimento para minimizar as seqüelas deixadas pelo sofrimento. Aos voluntários, aos partidos políticos, ONGs e aos mutirões que se propõe, cabe, e é bem vindo, trabalhar na prevenção com toda a cidade de Catanduva e, não só e agora com a questão do abuso sexual, que, podem ter certeza está ocorrendo, neste momento, em ruas e lares desta cidade, como também com a gravidez na adolescência, com a prostituição infanto-juvenil, com o adolescente usuário de droga, com o aliciamento de crianças e adolescentes pelo tráfico de drogas, com a exploração do trabalho infantil etc.
Feitas essas considerações, cabe a seguinte reflexão:
Os registrados da imprensa sobre o possível abuso sexual contra crianças (muitas crianças), moradoras de bairros carentes de nossa cidade, têm suscitado muitos comentários a esse respeito.
Seja com um simples comentário ou em ações organizadas (Sindicato, ONG, Partido Político etc.), grande parcela da população está atenta a essa questão. Assim, cabe refletir sobre o nosso comportamento e as conseqüências que, muitas vezes, sequer percebemos que tal comportamento traz.
Primeiramente, referir-se a essas crianças como coitadas, problemáticas, vítimas, em nada colabora. Algumas vezes até pode criar estigmas e preconceitos que se acumulariam a gama de problemas que já enfrentam.
Em segundo lugar: buscar ou oferecer medidas especiais de tratamento às crianças pode ser uma faca de dois gumes. É evidente que o problema existe, porém afirmar a decorrência de traumas destinatárias de um destino cruel seria, por demais, determinista. Cada indivíduo tem condições: em si mesmo, na família, na comunidade etc. (capacidade de resiliência) de encontrar formas para sobreviver às vicissitudes da vida. Claro que, em circunstâncias especiais, o auxílio de profissionais é fundamental, entretanto, algumas vezes, um pouco de bom senso, educação e respeito ao desejo do outro são essenciais e já ajudam muito.
Se a pessoa ao seu lado sofre com problemas graves e você tem ciência, seja delicado, discreto, complacente e o trate com naturalidade. Diga “sinto muito”, pergunte se ele precisa de algo, sorria, brinque com ele, ofereça um suco, um copo com água. Ensine seus filhos, sobrinhos, alunos a fazer o mesmo. Muitas vezes simplificar o momento relaxa e alivia algumas dores. A gravidade da situação não deixa de existir, mas pode ser resolvida nos lugares e momentos certos.
A nossa parte, como cidadãos comuns, é não aumentar o fardo dessas pessoas, seja direcionando suas dores e vidas ao caos, excluindo, apontando ou até mesmo sentindo piedade. Se possível, busque formas de organização para resolução de problemas sociais tão graves, mas não apenas quando estão em evidência e sim como parte de sua parcela de cidadania e participação para um mundo mais humano e mais justo.
Você já passeou pelos bairros de sua cidade? Você conhece a realidade à sua volta? Ou se limita a acompanhar vidas alheias pela TV, no conforto do seu sofá? Se for assim, pare de se revoltar e comentar por aí. Recolha-se no seu silêncio e apenas deseje que tudo se resolva da melhor maneira possível!